Um time de pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra conseguiu identificar, a partir de células-tronco embrionárias humanas, um tipo de célula progenitora (célula cardíaca "mãe") capaz de formar três tipos de células (cardiomiócitos, células endoteliais e células da musculatura lisa dos vasos) fundamentais para a formação e o funcionamento do coração. Essa pesquisa, que acaba de ser publicada na revista Nature, dá suporte a três estudos recentes publicados em 2007, nos quais outros cientistas estão desvendando, a partir de células-tronco embrionárias humanas, os segredos do coração. Essas pesquisas vão revolucionar o futuro dos transplantes. Imagino que no futuro poderemos "recauchutar" nosso próprio coração. Por enquanto, porém, esses estudos confirmam, mais uma vez, que ainda temos, com muita humildade, muito o que aprender com as células-tronco embrionárias humanas.
O que é uma célula progenitora
Para entender o que é uma célula progenitora – ou célula mãe - vamos voltar um pouco à embriologia. Aproximadamente cinco dias após a fecundação, o blastocisto ou pré-embrião tem cento e poucas células que são chamadas pluripotentes. Elas conseguem formar todos os tecidos do corpo humano. São "células-curingas" como alguns gostam de chamá-las. Mas conforme o embrião continua a se dividir essas células, em uma fase posterior, deixam de ser pluripotentes e começam a se diferenciar em tecidos: cardíaco, nervoso, ósseo e assim por diante. As células que irão originar cada um desses tecidos são chamadas de progenitoras ou "célula-mãe" na linguagem leiga.
Ou seja, a célula progenitora cardíaca vai originar as diferentes células que compõem o coração, a células progenitora hepática dará origem às células do fígado e assim por diante. O grande desafio é entender como se dá essa diferenciação. Qual é o "comando" ou os fatores que determinam, no nosso corpo, o que cada uma das células pluripotentes vai originar: coração, fígado, rim, osso, sangue? Como a célula sabe que ela tem que ser coração e não fígado ou osso? São questões fundamentais. Só depois de respondê-las e identificar os mecanismos responsáveis nós poderemos controlar esse processo.
O que há de novo no estudo publicado?
O líder da pesquisa publicada na Nature desta semana, o americano-canadense Gordon Keller, já havia realizado um estudo semelhante com células-tronco embrionárias de camundongos e demonstrado que a partir de uma célula progenitora cardíaca, chamada de KDR, era possível derivar três tipos de células vitais para a formação do coração. Agora eles deram mais um passo extremamente importante na direção humana e que poderá revolucionar os transplantes cardíacos. Ao adicionar um coquetel de fatores em culturas de células progenitoras cardíacas, originadas de células-tronco embrionárias humanas, na quantidade e seqüência correta, os pesquisadores conseguiram fazer elas se diferenciarem naqueles três tipos de células vitais para o funcionamento cardíaco.
Em seguida essas células foram transplantadas para o coração de camundongos. Formaram também os três tipos celulares (cardiomiócitos, células endoteliais e células da musculatura lisa dos vasos) comprovando "in vivo" o que havia sido observado nas culturas " in vitro", isto é, em laboratório. E temos duas ótimas notícias: a primeira é que os animais injetados mostraram uma melhora de cerca de 31% na função cardíaca. A segunda é que em nenhum dos animais transplantados observou-se a formação de tumores (teratomas), ao contrário do que foi observado em outro estudo recente onde foram injetadas células adultas "reprogramadas" em um modelo murino de doença de Parkinson.
O que o futuro nos reserva?
A pesquisa publicada na revista Nature confirma três estudos publicados em 2007 nos quais os pesquisadores mostraram que cardiomiócitos derivados de células-tronco embrionárias humanas melhoraram a função cardíaca quando transplantados em roedores com infarto do miocárdio. Os pesquisadores salientam que embora houve a melhora, os mecanismos ainda não são conhecidos. Mas os resultados apontam que é esse o caminho a seguir.
Não há dúvida que essas pesquisas vão revolucionar o futuro dos transplantes. Ao invés de esperar na fila, às vezes por muitos anos, por um doador compatível, imagino que no futuro poderemos "recauchutar" nosso próprio coração. Ou outros órgãos. Dependendo da lesão, eles não precisarão nem ser substituídos. Só iremos trocar os tecidos danificados. Mas essas quatro pesquisas recentes são mais uma evidência daquilo que estamos repetindo insistentemente. As células-tronco embrionárias humanas ainda têm muito o que nos ensinar. Temos que nos curvar humildemente e tentar aprender com elas. Disso depende o futuro da medicina.
http://origin.vejaonline.abril.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.
presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=129
Um comentário:
Fim do dilema: “Pesquisa com células embrionárias fracassou” http://www.andoc.es/
Foi declarado pela Dra. Natalia López Moratalla, catedrática de Biologia Molecular e Presidente da Associação Espanhola de Bioética e Ética Médica, que «as células-tronco embrionárias fracassaram; a esperança para os enfermos está nas células adultas» e «hoje a pesquisa derivou decididamente para o emprego das células-tronco 'adultas', que são extraídas do próprio organismo e que já estão dando resultados na cura de doentes».
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