Dedos apontados contra o etanol estão sujos de óleo, diz Lula
Presidente abre conferência da ONU sobre alimentos com defesa dos biocombustíveis e ataque aos subsídios
Lisandra Paraguassú, enviada especial a Roma
O presidente abriu seu discurso de 30 minutos na manhã desta terça, em Roma, com um duro ataque aos subsídios agrícolas impostos pelos países desenvolvidos e voltou a insistir no potencial dos biocombustíveis. Ele foi o segundo a falar na plenária dos chefes de Estado e governo e classificou de "uma burla" e uma "cortina de fumaça" as tentativas de associar a alta de alimentos com a produção de etanol.
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"É com espanto que vejo tentativas de criar uma relação de causa e efeito entre os biocombustíveis e o aumento dos preços dos alimentos. É curioso: são poucos os que mencionam o impacto negativo do aumento dos preços do petróleo sobre os custos de produção e transporte dos alimentos. Esse comportamento não é neutro nem desinteressado", acusou Lula.
O presidente considera a crise atual basicamente uma crise de distribuição, com várias causas adjacentes, entre eles a alta do petróleo, além dos subsídios, que acusou de "atrofiar e desorganizar" a produção em outros Países.
Durante o discurso, Lula cobrou a eliminação de "práticas desleais que caracterizam a prática agrícola". "Os subsídios criam dependência, desmantelam estruturas produtivas inteiras, geram fome e pobreza onde poderia haver prosperidade. Já passou da hora de eliminá-los", afirmou.
O presidente também propôs uma "globalização da agricultura", nos moldes em que os Países desenvolvidos tanto se empenham em ter na produção industrial. "Precisamos reformular visões, reciclar idéias. A globalização, que se instalou de maneira tão ampla na indústria, precisa chegar à agricultura", cobrou.
Amazônia
Para responder às acusações, Lula exibiu dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, para não usar dados brasileiros, mostrando que toda a cana-de-açúcar brasileira está concentrada em apenas 2% da sua área agrícola e apenas a metade disse é usado para etanol. O restante é usado em açúcar. "Há críticos ainda que apelam para um argumento sem pé nem cabeça: os canaviais no Brasil estariam invadindo a Amazônia. Quem fala uma bobagem dessas não conhece o Brasil", criticou.
"A Região Norte, onde fica quase toda a Floresta Amazônica, tem apenas 21 mil hectares de cana, o equivalente a 0,3% da área total dos canaviais do Brasil. Ou seja, 99,7% da cana está a pelo menos 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica. Isto é, a distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma que existe entre o Vaticano e o Kremlin. Em suma, o etanol de cana no Brasil não agride a Amazônia, não tira terra da produção de alimentos, nem diminui a oferta de comida na mesa dos brasileiros e dos povos do mundo".
Bom etanol X mau etanol
Lula, no entanto, se uniu às críticas ao etanol americano, feito de milho, e que tem sido apontado como o possível maior vilão da alta de preços, já que tem sido desviado da produção alimentar para os combustíveis. "É evidente que o etanol do milho só consegue competir com o etanol de cana quando é anabolizado por subsídios e protegido por barreiras tarifárias", disse.
"O etanol da cana gera 8,3 vezes mais energia renovável do que a energia fóssil empregada na sua produção. Já o etanol do milho gera apenas uma vez e meia a energia que consome. É por isso que há quem diga que o etanol é como o colesterol. Há o bom etanol e o mau etanol. O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios".
www.estadao.com.br/nacional/not_nac182982,0.htm
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