sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Uma nova economia cresce em torno de Britney Spears

Meios especializados em celebridades faturam com turbulência da cantora.


Para consultor, aumento de venda de revistas é atribuído a notícias de Britney.


Jeremy Herron da AP

Foto: AP
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Escândalos de Britney Spears ajudaram meios de comunicação (Foto: AP)


Nos dias seguintes à novela de Britney Spears ter chegado a seu ápice em 3 de janeiro, com a cantora sendo retirada de sua casa em uma maca, escoltada pela polícia, as revistas de celebridades estouraram, os sites de fofoca ficaram congestionados, a audiência da TV especializada aumentou e os preços de fotos de paparazzi subiram.


Para um número cada vez maior de pessoas e empresas, a saga de Britney - que na última quinta-feira (31) teve mais um capítulo decisivo com a segunda internação em uma instituição psiquiátrica no mês - significa dinheiro: toda vez que ela se afunda numa nova maré baixa, o dinheiro corre solto. E hoje em dia, ninguém fica de fora da contenda.

Ouça o especial Globoradio de Britney Spears

Veja a cantora em imagens ao longo de sua carreira

Quando a disputa pela custódia dos filhos terminou com um plantão de três horas na frente da casa de Spears há três semanas, a polícia e os bombeiros foram obrigados a mostrar serviço. As emissoras de TV enviaram helicópteros, e âncoras da TV a cabo cobriram o drama em tempo real. A agência de notícias Associated Press tinha dois repórteres no local, com editores nos dois extremos do país atualizando a cobertura sete vezes durante a noite.

'Fora do comum'


Spears é apenas uma das muitas estrelas à frente da crescente e multibilionária indústria de notícias sobre celebridades. Mas a história dela, em particular, que traz uma surpresa a cada semana, tornou-se um setor bastante lucrativo por si só.


“Britney é a celebridade mais lucrativa no momento, e foi assim durante todo o ano passado”, diz François Navarre, fundador da agência de paparazzi X17.


Spears tornou-se um assunto fundamental de tablóides depois de pedir o divórcio de seu segundo marido, Kevin Federline, em novembro de 2006. Desde então, ela entrou e saiu de clínicas de reabilitação, raspou a cabeça, foi flagrada sem calcinha em público, presa depois de um acidente de carro e perdeu a custódia de seus filhos (e o direito de visitá-los).


“O produto ideal para a indústria dos tablóides é aquilo que é fora do comum, e Britney tem sido uma fonte contínua disso”, diz Dan Smith, reitor da Escola de Administração Kelley, na Universidade de Indiana.

103 edições, 54 capas


Numa época em que os gastos com propaganda na mídia tradicional têm diminuido, jornais de fofoca sobre celebridades como o "Star", "Us Weekly" e "In Touch Weekly" estão crescendo. Isso ajudou as vendas de revistas em bancas a crescerem 1%, para US$ 2,39 bilhões, na primeira metade de 2007.


“O aumento pode ser quase que inteiramente atribuído ao crescimento das revistas de celebridades”, diz John Harrington, responsável pela consultoria Harrington Associates.


Toda vez que uma revista consegue aumentar as vendas em bancas além da sua média, os rendimentos são registrados quase que inteiramente como lucro. “A revista 'People' imprime 2,5 milhões de cópias e vende uma média de 1,5 milhão. Se eles conseguem uma edição que vende 2 milhões, esse meio milhão a mais é lucro”, diz Harrington.

Foto: AP
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Brintey Spears durante show (Foto: AP)


A "People", que tem uma abordagem mais ampla e menos sensacionalista da indústria do entretenimento, domina o setor em termos de circulação, mas isso não impediu que novas revistas como "In Touch" e "Life & Style Weekly" se acotovelassem para entrar no mercado. Outro título recém-lançado, a versão americana da revista britânica "OK!", mostrou um interesse particular em Britney Spears, estampando a foto da cantora na capa 54 vezes em 103 edições lançadas desde janeiro de 2006.


“O sonho de um editor é ter uma novela se desenrolando na vida real bem na sua frente, e Britney proporciona isso toda semana”, diz Sarah Ivens, editora da "OK!". A revista tem uma equipe de dez pessoas em Los Angeles totalmente devotada à cobertura de Spears. “Estamos em um plantão constante.”


Ela não revelou os custos disso para a revista, dizendo apenas que Britney tem sido “espetacular” para os negócios da "OK!". O editor Tom Morrisey disse que Spears aumentou as vendas em banca e mais que dobrou as vendas de anúncios da revista para US$ 51 milhões em 2007. A "OK!" espera entrar no lucro em 2008, três anos após lançar-se no mercado.


A "US Weekly" também esteve fascinada pela estrela, colocando Spears em quase dois terços de suas capas no ano passado, inclusive em cada uma das últimas 14 edições. A "People" teve Spears na capa dez vezes durante os últimos 15 meses.

Festa dos paparazzi


E esse aumento da demanda para fotos de Spears tem levado a um boom para os fotógrafos. Navarro, da agência X17, disse que uma foto exclusiva da cantora pode ser vendida por cerca de US$ 10 mil nos Estados Unidos e gerar mais alguns milhares em direitos autorais. “Ela é a celebridade mais cara no momento”, diz ele. “Por Angelina, por exemplo, divida esse valor por dois ou três para calcular o preço.”


Para se ter uma idéia do contraste, uma foto de celebridade pode ser vendida em média por US$ 125 a US$ 700, de acordo com Scott Mc Kiernan, fundador da agência ZUMA Press. Ele disse que as taxas de direitos autorais sobre fotos exclusivas podem jogar o valor de uma única foto de de Spears para além dos US$ 100 mil.

Muitas dessas imagens se espalham pelos sites de fofoca sobre celebridades, como TMZ e PerezHilton. Os sites fazem dinheiro direcionando os internautas para os anúncios em suas páginas, recebendo normalmente um valor fixo para cada mil visitas. Navarre diz que Spears congestiona o tráfego em seu site, X17online.com, mais do que qualquer outra celebridade.


“Durante o incidente da ambulância, o tráfego dobrou a cada hora”, disse ele, citando os dados de seu servidor.


A X17, dona da infame foto de Spears careca, tirada em fevereiro, tem uma equipe de fotógrafos seguindo a cantora todo o tempo. “Para nós, ela é a estrela número 1”, diz Navarre.


Garantia de audiência


Estatísticas da televisão mostram que um incidente com Britney Spears também atrai espectadores para os principais programas de notícias sobre entretenimento.


“Todos nós tivemos um pico de audiência” quando Spears foi levada ao hospital há duas semanas, disse Charles Lachman, produtor executivo do programa "Inside Edition". “Isso sempre acontece quando se trata dela.”


É mais difícil avaliar os ganhos econômicos dos programas de TV porque eles vendem anúncios com semanas de antecedência, com taxas baseadas na expectativa média de audiência. Se o programa falhar em atingir a audiência, tem de reembolsar o anunciante, mas não existe nenhum tipo de compensação se a audiência exceder às expectativas.


É suficiente dizer que os anunciantes adoram a atenção extra. “Qualquer coisa que aumente a audiência é um ganho para todos”, diz Shari Anne Brill, analista da Carat USA.

Foto: Associated Press
Associated Press
Britney Spears é carregada para dentro de uma ambulância em 3 de janeiro (Foto: Associated Press)


Por outro lado, a história de Spears não garante dinheiro para todo mundo. Ela também envolve alguns custos. Por exemplo, o aumento da vigilância sobre a cantora é um peso para as unidades de serviços públicos de Los Angeles, que têm de manter Spears em segurança e dispersar as multidões dos espaços públicos.


O departamento de Polícia de Los Angeles não pode estimar os custos extras que Spears gera. O incidente com a ambulância, na semana passada, foi atendido por funcionários que já estavam em serviço. O departamento de bombeiros disse considerar cobrar de Spears pelo serviço de ambulância, mas não revelou quanto.


As inúmeras aparições de Spears nos tribunais – para as audiências de custódia, procedimentos de divórcio e um caso civil – têm influências mais mensuráveis. Richard Barrantes, chefe do departamento de serviços judiciários da prefeitura de Los Angeles, disse que quando Spears e Federline foram à corte em 26 de outubro, seu departamento cobrou US$ 2.286,10 do tribunal para cobrir os custos de segurança extra no local.


Cotação


O comportamento da estrela também pode estar destruindo sua própria marca. Spears continua entre as celebridades mais reconhecidas, junto com Johnny Depp e Will Smith, de acordo com a Marketing Evaluations, a empresa que criou o "Q Score", um índice de pesquisa de opinião que mede a popularidade das celebridades. Mas ela não é muito querida. Seu “Q Score” negativo está em 66 – somente Federline tem um índice mais baixo entre todas as celebridades – o que significa que dois terços das pessoas que a conhecem deram a ela uma classificação “satisfatória” ou “ruim”. A média para as mulheres é 30.


Spears, que fazia propaganda para a Pepsi e agora não está à frente de nenhum produto importante, retira a maior parte de sua renda das vendas de música, incrementada por várias linhas de perfume e outros projetos. Elizabeth Arden, parceira de Spears no negócio de perfumes, lançou uma terceira fragrância da marca Spears, “Believe”.

Conta bancária gorda


Até agora, as extravagâncias de Spears parecem não ter afetado seus ganhos pessoais, que, de acordo com documentos judiciais divulgados em novembro, estão em cerca de US$ 737 mil por mês.


“Um bom ator ou músico pode seguir adiante com muita coisa bizarra acontecendo nos bastidores, desde que continue a produzir algo em sua carreira principal”, diz Smith.


Parece que foi o que Spears fez, ganhando a aclamação da crítica pelo disco “Blackout”, seu primeiro álbum de estúdio nos últimos quatro anos. O disco chegou ao primeiro lugar em vendas, apesar de cair rapidamente. Sua faixa-título, “Gimme More”, chegou ao terceiro lugar das 100 mais tocadas.


Agora que ela voltou ao drama dos bastidores, sua música ficou em segundo plano. E até certo ponto, a maioria dos especialistas em música concorda, o público já se cansou da história de Spears.


Isso não significa que toda a economia que cresceu ao redor dela vá perecer.


“Se não for Britney, então será Lindsay (Lohan), ou Paris (Hilton), ou alguma outra pessoa da qual ainda não ouvimos falar”, disse Smith.



Tradução Eloise De Vylder


http://g1.globo.com/Noticias

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