Ubiratan Brasil
Helen Mirren sentia-se envergonhada, durante o Baile do Governador, a mais tradicional festa que ocorre em Los Angeles depois da entrega do Oscar, por não se lembrar o que cochichou no ouvido de Daniel Day-Lewis logo que lhe entregou a estatueta de melhor ator por Sangue Negro. “Eu devia estar encantada demais, pois Daniel, além de ser um ator extraordinário, é um homem muito charmoso.”
O fascínio se explica pelo estilo obsessivo com que o ator trata seus papéis. Indagado, na entrevista coletiva depois da premiação, sobre como consegue viver longe dos personagens tão logo terminem as filmagens, Day-Lewis foi rápido: “Eles simplesmente me abandonam, não preciso fazer nada. Não sou do tipo que precisa passar por um exorcismo para se livrar de um papel.”
Ele contou que sempre descobre uma curiosidade sobre o personagem que o persegue durante o processo de encenação. Mas, tão logo é rodada a última cena, essa curiosidade diminui. “Claro que não se dispensa um papel com um simples estalar de dedos. Confesso que eu estava contente por explorar a vida de Daniel Plainview e até relutei quando fui obrigado a abandoná-lo. Mas basta continuar vivendo que você encontrará outras distrações também interessantes.”
O que realmente ficam são as experiências mais fortes. Day-Lewis garante selecionar aquelas que mais acrescentaram à sua vida e carreira. E trabalhar com Paul Thomas Anderson, diretor de Sangue Negro, foi uma delas. “Nossa convivência vai ser lembrada para o resto da minha vida”, garante. “Ainda temos o hábito de conversar diariamente por telefone, mesmo quando não há assunto. É uma forma de compensar a falta que me faz trabalhar com ele.” Selecionar os momentos marcantes e quantificar sua importância é, na opinião de Daniel Day-Lewis, o principal comprometimento de um ator.
E o resultado positivo vem do público, quando absorve o trabalho. “Venho de uma cultura (na verdade, duas, a inglesa e a irlandesa) em que é uma espécie de arte uma destratar a outra. Assim, é ótimo quando acontece uma aprovação.”
Também é relevante a troca de carinhos. Day-Lewis comentou o beijo que deu em George Clooney antes de subir ao palco receber sua estatueta. “Foi uma honra estar naquele grupo de finalistas, mas George é especial: sua generosidade, como homem e colega de trabalho, é inigualável. Ele é um grande cara. E eu precisava beijar alguém. Bem, claro que beijei minha mulher, mas eu também precisa fazer um carinho em um concorrente”, disse ele, brincos nas orelhas e com um penteado já não tão revoltado como de anos atrás, mas ainda assim nada comportado.
http://txt.estado.com.br/editorias/2008/02/26/
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