quarta-feira, 12 de março de 2008

A relação complicada entre as mulheres e a TPM


Pesquisa revela que 32% das mulheres latino-americanas ainda não utilizam nenhum método
anticoncepcional.

Nenhuma mulher em idade reprodutiva está livre dos efeitos (sempre desagradáveis) da tensão pré-menstrual, a tão falada e pouco explicada TPM. Para umas, como Fernanda B. M., de 18 anos, o sinal do desconforto chega com as dores de cabeça. Para Irene M., de 35 anos, as pernas inchadas revelam que “aqueles dias” estão chegando. Até Julio César reconhece a volta dos “dias complicados”. Sua esposa Marlene fica mais irritadiça. “É a fase do não-mexa-comigo-que-não-estou-boa”, brinca.

Todos esses sintomas estão sendo tabulados no estudo epidemiológico Tensão Pré-menstrual: perspectivas e atitudes de mulheres, homens e médicos ginecologistas do Brasil, uma pesquisa nacional desenvolvida pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e do Cemicamp - Centro de Pesquisa em Saúde Reprodutiva de Campinas, com o apoio da Bayer Schering Pharma. Os números atestam que 80% das mulheres com idade entre 18 e 35 anos já sentiram alguns dos sintomas da TPM. “Quase a totalidade delas, atribuem à síndrome, sintomas físicos e emocionais que as prejudicam no dia-a-dia”, relata professor de ginecologia da Unicamp, Carlos Alberto Petta, coordenador da pesquisa.

O especialista explica que, geralmente os sintomas da TPM aparecem de sete a dez dias antes da menstruação e desaparecem poucos dias após o seu final. A intensidade dos sintomas classifica o transtorno em três estágios: leve, moderado e severo. A forma mais severa é conhecida como Síndrome Disfórica Pré-Menstrual (SDPM) e apresenta impacto negativo na qualidade de vida da mulher, afetando as relações e atividades sociais e a produtividade profissional. “O diagnóstico é confirmado quando a paciente apresenta cinco sintomas físicos ou emocionais, sendo um deles obrigatoriamente emocional, em pelo menos sete ciclos dos últimos 12 meses”, explica Petta.

Não buscam tratamento

tpm03120308.jpgMarta Benevides Rehme, professora de ginecologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná explica que a TPM possui inúmeros sintomas físicos e psicológicos, que variam desde a sensação de inchaço causada pela retenção de líquidos, até a instabilidade emocional, que pode levar ao sentimento de raiva e crises de choro. Normalmente, o distúrbio se caracteriza pela combinação de diversos sintomas (ver quadro). “Estima-se que mais de 120 sintomas já foram relatados por mulheres que sofrem com a TPM”, cita a médica.

Para José Bento de Souza, ginecologista e obstetra, mesmo com todo o sucesso que as mulheres vêm conquistando na vida profissional, conseguindo conciliar vida familiar, carreira e atividades sociais com muito jogo de cintura e disposição, elas ainda têm que enfrentar esse obstáculo que parte do seu próprio organismo e que, muitas vezes, nem mesmo é reconhecido como um problema. A pesquisa indicou que, apesar de quase a metade das mulheres (47%) reconhecerem que a TPM interfere tanto no trabalho quanto na vida familiar, o tratamento médico só é procurado por pouco mais de 30% delas. “De todas as mulheres que sofrem com o distúrbio, 50% delas precisam de tratamento médico e 5%, de apoio psiquiátrico”, alerta o médico.

Consenso Latino-Americano


Carlos Alberto Petta:
"Nenhuma mulher
precisa 'sangrar'."

Por outro lado, o ginecologista Carlos Alberto Petta comenta que a divulgação da pesquisa poderá fazer com que muitos médicos que ainda desvalorizam os sintomas da TPM mudem seus conceitos e procurem tratá-los adequadamente quando elas procuram auxílio no consultório. “Elas também precisam se informar melhor e buscar ajuda, pois existem tratamentos para amenizar os sintomas da doença”, enfatiza José Bento.



Luis Bahamondes: "Ter sintomas de TPM não é normal, senhora."
Para adequar esta relação, pesquisadores da América Latina acabam de publicar o 1.º Consenso Latino-Americano sobre TPM. “Trata-se de um trabalho inédito, pois apesar de muito conhecida, a síndrome pré-menstrual só passou a reconhecida pela medicina na década de 1980”, comenta Luis Behamondes, professor titular do departamento de Toco-Ginecologia da Unicamp, coordenador do estudo. Conforme o consenso, divulgado no final de semana em Florianópolis (SC), o diagnóstico da SPDM, a forma mais severa da TPM, deve ser feito a partir do acompanhamento mensal dos sintomas da paciente, sendo obrigatoriamente cinco sintomas físicos e um emocional. “Vale lembrar que a síndrome, nas suas duas formas, apresenta sintomas similares a outros transtornos, como cefaléia, ansiedade e depressão, o que pode dificultar a investigação e o tratamento adequado”, explica Behamondes.


José Bento de Souza:
"90% das adolescentes deixam de tomar a pílula no primeiro ano."
Quanto às opções de tratamento, elas podem cassificadas de duas formas: intervenções não-medicamentosas e farmacológicas. A primeira inclui alterações do estilo de vida, atividade física, modificação na dieta e acompanhamento psicológico. Já as opções farmacológicas, incluem tratamentos similares aos usados para a depressão, com a prescrição de ansiolíticos e inibidores da seratonina. “Os anticoncepcionais combinados orais também se revelam uma importante opção para o tratamento da síndrome”, garante Sharon Winer, principal investigadora de Centro de Pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, sobre menopausa e terapia hormonal.

*Nosso jornalista participou do lançamento do consenso a convite do laboratório

Sintomas físicos

* Fadiga

* Dor de cabeça (cefaléia)

* Inchaço nos pés e nas mãos

* Dor nas mamas

* Distensão abdominal

* Cólicas

* Alteração do apetite

* Alteração do sono (aumento do sono ou insônia)

Sintomas emocionais

* Irritabilidade

* Depressão ou desespero

* Ansiedade e tensão

* Tristeza repentina

* Choro

* Raiva e fúria

* Oscilações súbitas de humor

* Dificuldade de concentração

* Baixa auto-estima

* Desinteresse nas atividades habituais

* Falta de energia

* Dor nas articulações e nos músculos

Nos contraceptivos, um aliado

tpm04120308.jpgRecentemente o FDA, agência americana que regula o uso de medicamentos, aprovou o uso do anticoncepcional combinado oral YAZ® (drospirenona e etinilestradiol) para tratamento dos sintomas emocionais e físicos associados à SDPM. As pílulas anticoncepcionais modernas contêm menores doses de hormônios em comparação com as suas primeiras versões, lançadas nos anos 60s. Anteriormente, cercada de alguns tabus e preconceitos, a pílula passou a influir positivamente, trazendo resultados relevantes, nesse quesito.

Em 2007, um estudo clínico com 450 mulheres com idade entre 18 e 40 anos e diagnóstico confirmado da referida síndrome, 48% das pacientes que tomaram o anticoncepcional combinado tiveram redução dos sintomas severos em 50%. Seu uso contínuo melhorou significativamente o humor, o comportamento e os sintomas físicos.

O ginecologista Carlos Alberto Petta explica que essa pílula anticoncepcional age combatendo uma das principais causas da TPM, a flutuação hormonal, ou seja, o aumento ou diminuição dos hormônios a cada ciclo menstrual e durante o próprio ciclo. "O regime de 24 comprimidos e 4 dias de pausa possibilita que os benefícios da drospirenona sejam estendidos por todo o ciclo menstrual, o que proporciona maior alívio dos sintomas da TPM", confirma.

A ação do contraceptivo ajuda a diminuir a retenção de líquido, evita as cólicas, inchaço e aumento de peso, além de melhorar os sintomas emocionais, como irritabilidade e depressão.


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