O premier russo, Vladimir Putin |
MOSCOU (AFP) — A Rússia deu a entender nesta terça-feira que se sente vitoriosa com os resultados da reunião de cúpula da União Européia realizada na véspera, em Bruxelas, na qual os líderes do bloco se abstiveram de impor sanções em resposta à intervenção militar russa na Geórgia.
"Graças a Deus, o bom senso triunfou. Não vemos nenhuma conclusão ou proposta extrema e está muito bem assim", afirmou o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin.
Em relação aos resultados concretos da cúpula, ou seja, o adiamento das negociações do acordo de cooperação ampliada Rússia-UE, a chancelaria se limitou a lamentá-los.
"É de lamentar a intenção de congelar as negociações sobre um novo acordo de associação, apesar de nos últimos dois anos a Rússia estar acostumada aos obstáculos artificiais à assinatura deste documento", afirma um comunicado do ministério russo das Relações Exteriores.
"Nossa associação com a UE não deve ser refém de divergências de opinião sobre esta ou aquela questão", acrescenta a nota, que também comemora a "atitude responsável" da UE de não ter adotado sanções econômicas.
"Nossa cooperação é mutuamente vantajosa e as vantagens são tão importantes que seria pelo menos imprudente questioná-la", afirma a chancelaria.
"Moscou está disposta a manter uma cooperação constructiva e leal".
"Claro que não podemos aceitar certas afirmações da declaração final da reunião, entre elas a tese sobre nossa 'reação desproporcional' à agressão cometida pela Geórgia", prossegue o comunicado.
"Porém, o essencial é que os países que pediram sanções ficaram em minoria e uma maioria dos países membros da UE deram mostras de responsabilidade e confirmaram a política de cooperação com a Rússia", completa.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, lamentou que a UE "não tenha compreendido totalmente" os motivos da ofensiva russa contra a Geórgia e do reconhecimento da independência de Ossétia do Sul e da Abkházia.
As discussões permanecerão suspensas até que as tropas russas se retirem totalmente da Geórgia, definiu a UE em uma reunião de cúpula extraordinária na segunda-feira em Bruxelas.
Para o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, em declarações ao canal de tv France 24, a decisão da UE de adiar as negociações é um passo muito importante, que demonstra que Moscou não dividiu a Europa.
"A Europa foi muito rápida e adotou um tom rígido pouco comum. Acho que foi um passo muito importante", afirmou Saakashvili. "A Rússia fracassou ao tentar romper essa unidade dentro da Europa", acrescentou.
Horas depois, Medvedev definiu Saakashvili como um "cadáver político" em uma entrevista transmitida pela televisão russa.
"Para nós, o atual regime georgiano acabou. O presidente Saakashvili não existe mais. Ele não passa de um cadáver político", disparou Medvedev.
A imprensa de Moscou, por sua vez, celebrou abertamente o suposto êxito do Kremlin por ter evitado as sanções européias e elogiou a "vitória diplomática" do governo.
O tablóide Tvoi Den afirma que a "Europa pode continuar sugando nosso petroléo e gás". Na primeira página foi publicada uma charge do premier britânico Gordon Brown, seu chanceler David Miliband e do presidente polonêo Lech Kaczynski com a legenda "A UE não se rendeu aos histéricos".
Já o Vremya Novostei afirmou que "a UE repreendeu a Rússia apenas com palavras".
Moscou espera que os problemas sobre a aplicação do acordo de paz negociado para solucionar o conflito com a Geórgia sejam examinados com detalhes na reunião da próxima saegunda-feira entre os presidentes russo, Dmitri Medvedev, e francês, Nicolas Sarkozy.
"O fato da UE não ter adotado sanções parece demonstrar, pelo menos até o momento, uma clara vitória dos partidários do diálogo com Moscou", destaca o jornal Rossiiskaya Gazeta.
"A dependência mútua entre a UE e a Rússia não deixa outra alternativa que a de desenvolver estreitas relações bilaterais. Isto foi confirmado novamente na reunião de Bruxelas", completa.
http://afp.google.com/article/ALeqM5iX5GCHuFAy23CcmzRzy-wiZzd8Bg
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