sábado, 12 de julho de 2008

Pai de João Roberto se emociona ao rever brinquedos do filho



Paulo Roberto contou do trauma da mulher e da dor de voltar em casa.
Leia na íntegra nota de agradecimento do taxista e da mulher Alessandra.
Alícia Uchôa Do G1, no Rio

Foto: Letícia Pontual / Ag. O Globo
Letícia Pontual / Ag. O Globo
Paulo Roberto e Alessandra se emocionam durante missa do filho (Foto: Letícia Pontual / Ag. O Globo)

Paulo Roberto Soares, o pai do menino João Roberto, de 3 anos, morto por PMs na Tijuca, na Zona Norte do Rio, no último dia 6, contou que se emocionou muito ao voltar em casa e se deparar com "as coisinhas" - os brinquedos - do filho.

“Não tenho essa grandiosidade, não consigo perdoar”, desabafou o taxista, após a a missa de sétimo dia do menino. Ele falou do trauma da mulher, que viu a morte do menino e da dor de voltar em casa após do crime.

Paulo Roberto falou aos jornalistas ainda na Catedral Metropolitana, onde aconteceu a cerimônia, pouco depois de a sogra ter desmaiado, emocionada. “Quero agradecer as orações a solidariedade de todos. Me emocionei em vários momentos nesta missa e achei que também fosse desmaiar”, contou ele.

A volta pra casa

Hospedado na casa de amigos desde o dia do crime, Paulo contou que voltou à casa da família, na Tijuca, esta semana. “Fui lá pegar alguns pertences e me emocionei muito ao ver as coisinhas dele”, lembrou, chorando.

O pai de João disse ainda que a mulher Alessandra, que estava com o filho na hora do crime, ainda está muito traumatizada. “Não sei como ela está conseguindo. Ela não pode ouvir um barulho, pode ser de uma porta ou de um carro, que se assusta”, revelou ele.

‘Quero voltar a ser feliz’, diz pai de João

“Queria ter ido às manifestações gritar o nome do meu filho, mas tenho uma ferida aberta, que ainda sangra. Eu preciso me tratar para seguir com meu outro filho, que está vivo por um milagre”, disse Paulo. Esta semana, a perícia constatou que três balas atingiram a cadeira de Vinicius, de 9 meses, durante a ação policial.

“A gente não tem que estar o tempo todo com esta armadura, abrutalhados, achando que quem passa ao lado é nosso inimigo”, ponderou Paulo, que pediu que a morte de João não tenha sido em vão.

“Meu filho, ninguém vai trazer de volta, mas ninguém mais tem que passar por isso. Eu era feliz e quero voltar a ser feliz.”

Indisponivel
Indisponivel
João Roberto foi morto a tiros por policiais militares (Foto: Ricardo Leoni / Ag. O Globo)
Leia a nota de agradecimento do casal

Pouco depois da missa, os pais de João divulgaram uma nota de agradecimento aos que têm se solidarizado com sua dor. Leia a nota assinada pelo casal na íntegra:

"Vivenciamos no último domingo mais um lamentável acontecimento que infelizmente parece fazer parte do nosso cotidiano. Diferentemente de outras vezes, agora aconteceu na nossa família, com o prematuro falecimento de nosso amado filho João Roberto, de apenas três anos.

João Roberto foi vítima de mais uma grave violência ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, durante uma operação policial, sem o direito primordial de defesa, nos revelando de forma gritante, entre outras deficiências, a fragilidade do preparo das instituições que deveriam nos proteger e assegurar nossos direitos individuais.

Choramos o ocorrido e sofremos de forma que só pode ser descrita por quem passou por um momento como este, da perda de um ente muito amado de uma forma absurda, como foi a que ocorreu conosco.

Embora estejamos ainda sob efeito devastador da recente fatalidade que afligiu a nossa família, não podemos deixar de agradecer às demonstrações de carinho que têm chegado a nós.

Agradecemos aos familiares, amigos, a população em geral, pelo respaldo emocional que está contribuindo em muito para amenizar nosso sofrimento decorrente da partida do nosso João Roberto, e a toda a imprensa que tem atuado de maneira eficaz e firme, na divulgação dos fatos. Acreditamos em Deus e que a Justiça será feita."

Foto: Alícia Uchôa /  G1
Alícia Uchôa / G1
Na missa de 7º dia: foto do menino na camiseta da família e de amigos (Foto: Alícia Uchôa/G1)
Missa de 7º dia
Na missa de sétimo dia do menino, parentes e amigos vestiam camisetas com a foto de João e a palavra paz. A pedido dos pais, a cerimônia foi realizada para cerca de 300 pessoas na Capela do Santíssimo.

Em clima de protesto, uma carreata com cerca de 20 taxistas e familiares de outras vítimas da violência, como os pais de estudante Daniel Duque, morto há 15 dias por um policial militar e as mães dos três rapazes entregues a traficantes por militares no Morro da Providência, também estiveram presentes.

Ao fim da missa, emocionada, a avó de João Roberto, Dona Cirene, passou mal e desmaiou. Ela foi atentida na sacristia.


http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL644579-5606,00-PAI+DE+JOAO+ROBERTO+SE+EMOCIONA+AO+REVER+BRINQUEDOS+DO+FILHO.html

Nenhum comentário:

Google
 

Videos Engraçados