GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
A Polícia Federal decidiu divulgar trechos do áudio da gravação do encontro da cúpula da direção-geral da instituição, na última segunda-feira, em São Paulo, que discutiu o afastamento dos delegados da Operação Satiagraha Protógenes Queiroz, Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro.
Inicialmente, a PF havia informado que não divulgaria as gravações. Mas voltou atrás depois de analisar o áudio. A Folha Online apurou que a PF considerou que haviam trechos da gravação que poderiam ser divulgados por esclarecer a saída de Protógenes das investigações. As gravações foram divididas em três trechos. De acordo com a PF, são trechos aleatórios e editados pela instituição.
Os áudios contêm as vozes de Protógenes, do diretor de combate ao crime organizado da PF de Brasília, Roberto Troncon Filho e o superintendente em São Paulo, Leandro Coimbra, e outros seis delegados federais.
Ouça gravação da reunião da PF
Veja abaixo íntegras dos trechos divulgados:
Primeira parte
Protógenes: "Eu não preciso nem falar em relação ao doutor Troncon. [..] Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente eu destaco doutor Troncon. Em segundo, o doutor Leandro. Em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia me esquecer aqui também do doutor Luiz Fernando Corrêa. Ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Na minha avaliação, tirando os erros que a gente está avaliando aqui hoje, que é uma avaliação de erro para nós corrigirmos e nos policiarmos. Houve a presença da imprensa aqui em São Paulo, houve. Falhou, falhou. Quem falhou? O Queiroz falhou porque o doutor Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle."
Segunda parte
Protógenes: "[...] Evasão fiscal e outros crimes que porventura se relacionem com a formação de quadrilha."
Troncon: "Informação privilegiada."
Protógenes: "Informação privilegiada e formação de quadrilha também para esses crimes correlatos."
Troncon: "Quer dizer: a estrutura principal desse inquérito que você instaurou é a questão do laudo que trata da gestão fraudulenta mais a corrupção."
Protógenes: "Isso. Esse inquérito, ele está sequinho. Eu já tenho. Como é que ele se materializou? Ele se materializa com a análise do laudo, a análise do HD, que eram informações passadas, que foi estratificadas através dessa laudo da Polícia Federal, cotejado com dados atualizados que foram decorrentes de um ano e meio de interceptação telefônica e interceptação de e-mails ao transitar documentos. Então, além de outros crimes que dão fortemente a materialidade da gestão fraudulenta, tá? A estratégia foi justamente fazer três instrumentos para poder facilitar o trabalho. Aí conversei com o Fausto isso e ele achou boa idéia, ainda que lá na frente tudo se unir, tá um canal só para a Sexta vara.
(editado)
Protógenes: "Eu marquei de fazer até sexta-feira"
Leandro: "Você consegue fazer até sexta? Consegue relatar até sexta?"
Troncon: "Não, tem que ouvir o pessoal. Mas você consegue concluir até sexta? Se conseguir concluir até sexta, aí tudo bem."
Protógenes: Depende de eu falar com o advogado. Só faltava o Humberto. O Humberto se apresentou... Não vejo nenhum óbice, não."
Leandro: "Então ele conclui até sexta e a gente fica para resolver os outros."
Troncon: "Agora outra coisa que é importante deixar muito claro aqui: esses inquéritos são tombados na Delecin [Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros da Superintendência de São Paulo]. O Saadi está aqui porque está como chefe da Delecin, mas o superintendente está dizendo que ele vai permanecer. Independentemente de quem está aqui, quem não está, isso é o básico do que a gente tem que seguir. Eu fiz questão de falar, olha essa investigação tem que falar. Tudo o que o diretor tem falado é tudo o que eu acredito. Deixa eu concluir. O local do crime é aqui, pelo menos parte dele, o inquérito é tombado lá. Tem que ter um alinhamento, uma sinergia completa com a chefia da delegacia, com a Dercor [Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado], com o superintendente, com o Defin [Divisão de Combate aos Crimes Financeiros] e comigo."
Terceira parte
Protógenes: [...] E até mesmo depois da academia eu não pretendo. A minha proposta é: eu fico até o final da operação, porque eu criei um problemas para os meus colegas delegados, criei um grande problema, e eu acredito que para você também, e a minha proposta é essa. É permanecer a minha vinculação no seu gabinete à sua disposição até o final dos trabalhos, pra não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos Estados e deixa no meio do caminho. As minhas nunca ficaram no meio do caminho. As minhas nunca ficaram. E, a exemplo dessa, não vai ficar. Só que com um diferencial. Eu não vou estar presidindo, eu não pretendo presidir nenhuma investigação. Aí ficaria uma coisa, um trabalho, coletando dados."
Troncon: "Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instaurou, se você concluir antes desse período de você ir pra academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir, dentro da melhor técnica, se falar não, se requer mais tempo, requer maior análise, aí a gente passa pra um dos colegas."
www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u423456.shtml
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