Farc sofrem duro golpe com a morte de Manuel Marulanda
da France Presse
da Folha Online
A morte do líder máximo das Farc, Manuel Marulanda, considerado como o ponto de união da cúpula do grupo, pode ocasionar uma nova disputa interna pelo controle da organização. Segundo analistas, o comando das Farc deve ser disputado entre os dirigentes moderados como Guillermo Sáenz ou Alfonso Cano, e a "ala radical" que é liderada por Jorge Suárez Briceño, o Mono Jojoy.
Ricardo Mazalan/AP |
Militares da colômbia confirmaram neste sábado que o líder das Farc, Manuel Marulanda, está morto |
A morte do chefe veterano, segundo comunicado das autoridades militares colombianas, teria acontecido no dia 26 de março, devido a um enfarte, de acordo com um relatório da inteligência do país.
O número dois da guerrilha, Raúl Reyes, que seria o substituto natural, foi morto no dia 1º de março deste ano em uma incursão do Exército colombiano que destruiu o acampamento onde estava, no Equador.
Pedro Antonio Marín, o verdadeiro nome de Marulanda, teria nascido no dia 12 de maio de 1928 ou de 1930, na aldeia de Génova, no centro-oeste da Colômbia, de uma família de pequenos agricultores, sendo o mais velho de cinco irmãos.
Captura
Em janeiro, o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, já havia dito que os militares tinham conseguido localizar a área em que se encontrava Manuel Marulanda, mas não o ponto específico e, devido às dificuldades de acesso na selva, não foi possível capturá-lo.
Manuel Marulanda, ou "Tirofijo", era considerado personagem emblemático das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia: em 1964 conseguiu transformar em guerrilha um movimento camponês de 48 indivíduos, chegando a comandar mais de 17 mil homens.
"O guerrilheiro mais velho do mundo", como era conhecido há vários anos, comandava a organização insurgente, de algum lugar ao sul da Colômbia. Ninguém foi perseguido mais do que este dirigente, cuja morte já havia sido anunciada várias vezes. De extrema discrição, Marulanda desapareceu durante meses, dando mais espaço às especulações.
Em fevereiro de 2004, uma jornalista colombiana assinalou --citando fontes das Farc-- que "Tirofijo" tinha um câncer de próstata e que teria apenas mais seis meses de vida, mas o número dois do maior grupo guerrilheiro do país, Raúl Reyes, morto recentemente, desmentiu a versão.
Biografia
Nascido no município de Génova, no Departamento de Quindío (oeste), Marulanda entrou na luta armada em 1949 quando era um adolescente após acompanhar a morte de vários familiares por causa da política e da repressão do governo desatada pelo assassinato em 1948 do político liberal Jorge Eliécer Gaitán.
Foi então quando Marulanda, 14 primos e vários companheiros fugiram para as montanhas de Quindío para organizar a primeira guerrilha camponesa de origem liberal que pretendia combater na época o então governo conservador.
Com a chegada ao poder do general Gustavo Rojas Pinilla (único ditador na Colômbia no século 20), abriu-se no país a possibilidade de um armistício e desmobilização que envolveu vários líderes camponeses, mas Marulanda Vélez se manteve armado na clandestinidade.
Nesta época foi sondado por membros do Partido Comunista que lhe propuseram formar guerrilhas sob essa orientação política. Marulanda Vélez renunciou então à defesa das bandeiras liberais e abraçou a doutrina comunista e se mudou com um punhado de camponeses para uma zona montanhosa do sudoeste da Colômbia.
Tigre
Quando soube da morte de seu cunhado e assessor Pedro Ardila, assassinado em janeiro de 1960 pela força pública, "Tirofijo" disse: "mataram a ovelha e deixaram o tigre".
A principal data para as Farc é 27 de maio de 1964, quando o Exército colombiano lançou um ataque em massa contra uma das denominadas repúblicas independentes das ligas camponesas: Marquetalia, uma pequena população em Tolima (sul).
Cinqüenta homens e mulheres que estavam ali fugiram e dois anos depois batizaram o movimento de Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia, um grupo de esquerda que iniciou sua luta armada lançando um programa político que procurava uma profunda reforma agrária e tomar o poder.
De caráter retraído e temperamento sereno com uma maneira de falar pausada e quase paternal --segundo seu mais autorizado biógrafo, o escritor colombiano Arturo Alape--, Marulanda tinha 1,68 metro de altura e pele morena, sabe-se que foi casado tendo vários filhos, sendo que pelo menos uma filha o acompanhou na luta armada.
Envolvido num clima de legenda, Marulanda sobreviveu a todas as adversidades e se dizia que tinha "sete vidas".
www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u405110.shtml
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