Cientistas chineses conseguiram obter uma proteína humana amplamente usada pela indústria farmacêutica a partir de arroz transgênico.
Os pesquisadores desenvolveram um tipo de arroz que tem 10% do seu conteúdo proteico formado pela versão humana da albumina, encontrada no sangue.
Essa substância é utilizada em grande escala –cerca de 500 toneladas por ano– para a produção de vacinas e remédios e para o tratamento de queimaduras e de cirrose.
O problema é que a albumina é obtida atualmente por doação de sangue e cultivada em soro. Isso dificulta seu uso em larga escala e aumenta o risco de contaminações, por exemplo, por vírus.
Por isso, os chineses resolveram produzi-la no arroz. O trabalho está publicado nesta terça-feira na revista científica “PNAS”.
BIOFÁBRICA
“O objetivo desse tipo de transgenia é usar plantas como veículos para a produção de medicamentos”, explica Francisco Aragão, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Ele coordenou o grupo que desenvolveu o feijão transgênico brasileiro, aprovado em setembro para uso comercial.
“As plantas têm-se mostrado eficazes para produzir proteínas de interesse. Sai mais barato, reduz o risco de contaminação e aumenta a produção”, defende o cientista.
No caso, os chineses conseguiram extrair 2,75 g da proteína humana por quilo de arroz transgênico. Agora, os pesquisadores vão avaliar o uso comercial da albumina do arroz -o que pode levar cerca de dez anos. “Mas os chineses já adiantaram que a composição físico-química da proteína do arroz é tão efetiva quanto a da extraída do sangue.”
Outra questão a ser analisada é a forma de cultivo do arroz transgênico com proteína humana para que a planta não caia na cadeia alimentar. De acordo com Aragão, a dificuldade é que o arroz tem polinização aberta e, por isso, pode facilmente “contaminar” outras plantações.
“Mas o cultivo pode ser feito em estufas. Isso já acontece em Cuba, com plantas transgênicas para produção de proteínas usadas em vacinas”, explica ele.
Esse tipo de transgenia também está sendo feito no Brasil. O grupo de Aragão tem estudado a produção de proteínas no alface e na soja. Diferentemente do feijão transgênico desenvolvido na Embrapa, resistente a uma praga (o vírus do mosaico dourado), o arroz transgênico chinês não será comido.
Mas outro tipo de arroz transgênico está em vias de aprovação naquele país –o que será inédito no mundo. No Brasil, o arroz transgênico para uso comercial, desenvolvido pela Bayer, foi retirado da pauta da CTNBio (Comissão Nacional Técnica de Biossegurança) em 2010.
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